sábado, 25 de outubro de 2008

A menina do armário

Larissa despediu-se de seus pais, e foi para seu quarto, já era noite, algo em torno de onze horas. E como dizem, já era hora de criança estar na cama, dormindo, mas isso não era para Larissa, já com seus cinco anos, adorava fechar se no quarto e fingir dormir cedo. Adorava ficar desenhando ou folheando alguns de seus livros.

Neste dia não seria diferente, sentou-se na cama, e pegou algumas folhas de papel, pois hoje estava com vontade de desenhar, mas algo a incomodou, uma porta aberta no armário, levantou-se, e meio sem saber porque, correu a fechar a porta. Sua avó lhe havia contado várias histórias e lendas sobre os seres que habitavam o armário e que deveria sempre deixar fechado, principalmente durante a noite.

- Engraçado - sussurrou Larissa - vovó deve me ter dito isso, para eu sempre manter as portas fechadas e de certa forma, meu quarto arrumado, se existisse alguém ai dentro, com certeza eu já teria visto. Poxa, e eu acreditei direitinho!! Quer saber? Hoje não vou fechar porta coisa nenhuma!

E assim, voltou para a cama deixando a porta de seu armário aberta.

Seu quarto estava a meia luz, iluminado apenas por um abajur próximo a cabeceira de sua cama, o suficiente para enxergar os traços de seus desenhos. Um quarto nitidamente infantil, com um mural de desenhos em uma das paredes, uma prateleira com bonecas e pelúcias, livros infantis, e vários brinquedos. Um baú enorme a um canto guardava todo o resto, mas de tão cheio, mal fechava.

- Tenho que desenhar isso rápido, antes que eu me esqueça dos detalhes.

Larissa havia tido um sonho naquela tarde, e estava ansiosa para que anoitecesse para que pudesse colocar no papel o que vira, era um lugar muito bonito, no alto de uma montanha, ouvira o barulho de um riacho, mas não o vira, o que realmente a impressionou e não queria esquecer, foi a imagem que estava no cume, parecia algo que já vira em alguns dos livros de sua avó, por isso então, queria desenhar, para mostrar-lhe. Quem sabe a avó pudesse esclarecer-lhe de onde estivera.

- PLAFT! – Foi o que fez algumas das coisas que caíram da porta aberta do armário.

Intrigada, Larissa ergueu os olhos, não se assustara, mas era um tanto quanto estranho essas coisas terem caído, afinal, o armário não estava tão cheio assim.

Levantou-se para ver de perto o que havia caído. Algumas blusas estavam no chão, um ou outro brinquedo, um porta jóias, que se espatifou, e um livro, que caiu aberto, virado para baixo. Era um livro de história, um livro que seu pai lhe dera e disse que o guardasse para quando tivesse aprendido a ler. Pegou o livro com cuidado, era um volume grosso, mas parou estática quando virou e observou a foto da página que estava um pouco amassada pela queda.

- Essa foto! Não pode ser, nunca havia reparado nela, mas é exatamente como no meu sonho, os símbolos, as rochas, o lugar só está um pouco diferente, com menos árvores talvez, e é dia na foto. Mas tenho certeza, é isso, foi com esse lugar que sonhei, não é possível! Que lugar é esse? E por que esse livro caiu dessa maneira, justamente na página que eu precisava? Que coincidência é essa? Vovô vive dizendo que coincidências não existem.

Ouviu um riso vindo de dentro do armário pouco iluminado, não conseguiu imaginar o que poderia ser, de todos os seus brinquedos, nenhum fazia barulho similar.

- Quem está rindo? Quem está ai?

Apenas o silencio respondeu, acompanhado apenas do ruído distante e constante que vinha da avenida aonde morava. Curiosa como era, foi logo verificar.

- Imagina, será que tem mesmo alguma coisa no armário? Hei, tem alguém ai? Pode responder, eu não vou fazer mal algum.

Procurou de um lado, procurou de outro lado, e nada. Não havia nada diferente ali dentro, já estava desistindo quando ouviu:

- Atchim.

Larissa arregalou os olhos, tamanho era seu espanto, o espirro veio de muito perto, olhou rápido na direção e viu. Não podia acreditar, havia alguém ali. Uma garota, pouco mais velha, olhos grandes, boca miúda, cabelos pretos e longos. Um turbilhão de pensamentos povoou a mente de Larissa, como aquela menina havia parado ali, o que fazia ali, por que...

A menina parecia espantada, era como se não acreditasse haver sido descoberta. Mas ela deveria saber que Larissa ainda era uma criança, e como toda criança, vê coisas além das visíveis a um velho olhar. Podia ver além, era muito inteligente para a idade, apenas o pai acreditava no que ela contava que via. Sua mãe se assustava, como toda pessoa que teme o que não conhece. E seus avós, ah, esses viviam a contar-lhe histórias cheias de magia, seres encantados, aliás, realmente, pareciam morar num lugar encantado, Larissa adorava visitá-los, tinha muitos amigos diferentes por lá. Mas, e aquela menina, era um ser visível ou invisível? Larissa não agüentava mais de curiosidade, quando bombardeou a menina:

- O que faz dentro do meu armário? Por que está ai? Quem é você?
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