quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O primeiro passo


Às vezes, tudo o que precisamos é dar o primeiro passo.
Às vezes, precisamos apenas observar e aí encontramos aonde esse caminho nos levará.
O primeiro passo precisa ser dado, mas observe se está no caminho certo. Nunca é demais.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O Perfume da Rosa

Somente hoje, após tanto tempo, senti o perfume, aquele de sempre. Sabia de sua presença, passou por um breve instante ao meu lado. Obrigada. Acho que hoje é seu aniversário por aí, e eu que ganhei o presente: sua visita.

Estranho, a lágrima está ali, bem guardadinha, e hoje, a sensação que tenho é de que se passaram 100 anos e ao mesmo tempo, parece que foi ontem. Bem lúcido isso.

Hoje já não quero mais fugir da prisão, hoje já não quero a liberdade. Hoje quero que o dia de voltar a te ver demore muito a chegar. Digo isso, mesmo com lágrima nos olhos, mas é a realidade. Nossos desejos e anseios mudam, nossas vontades transformam-se. Queria, mas queria muito mesmo que estivesse aqui, com todos nós, mas, creio que isso seja pura e simplesmente egoísmo de minha parte.

Seu nome, em hipótese alguma, será a lembrança de um hurricane. Ao contrário, sua presença, o perfume das rosas e seu sorriso, transmitiam a todos ao redor uma paz tão profunda e um desejo enorme de ficar ali para sempre. Com aquela sensação abobalhada de que todos os problemas serão resolvidos, basta começar a trabalhá-lhos. Dividir. Conquistar.

Saudade sim, tristeza não.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Da onde vem os sonhos?

Alguém lembra desse episódio?

Lembro-me de ter experimentado a técnica sugerida, e realmente funciona. Agora, só me resta lembrar de fazer isso hoje em dia, e lembrar que quero olhar para as minhas mãos!!



Bons sonhos

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Sombras da ternura

Observava seu protegido de longe. Em tempos esquecidos, seguia ao seu lado, hoje ele ignorava sua existencia. Mesmo assim o amava, e sempre o protegeria quando pudesse. Muitas, muitas vezes precisou ouvir sem poder responder mesmo com uma simples explicação, de que não podia ajudá-lo em tudo. Gostaria muitas vezes de ter entrado em sua frente em alguns momentos e salvá-lo de quebrar uma perna, alguns dentes, arranhões, decepções... Não podia! Ele precisava entender: não se vive a vida do outro.  Acredite, dói muito observar sem nada poder fazer, mesmo sabendo que assim talvez funcione mais do que se fizer algo concreto, pois sua voz mesmo que ouvida não seria creditada.

É sempre assim né? Reclama-se quando a ajuda não vem, e quando ela vem, não recebe o devido valor e passa-se em branco, como se nada houvesse acontecido.

E assim será, até o fim dos dias, quando for receber-lo sorrindo, e sentir em sua alma que ele não a reconhece mais. Seus olhares irão cruzar-se, corações tentarão conversar, mas ele ainda estará sob o domínio da razão, aquela em que acredita ser real. Algo em sua alma lhe dirá que essa era a voz que ouvia, porém ignorava e abafava sua existência, mas sua razão falará mais alto e dirá que não passa de uma manipulação, que tudo não passa de uma farsa....

Tudo bem, ela o entende, e imagina que, talvez fizesse a mesma coisa em seu lugar. Um dia já fora assim. Faz parte.

Continuará sempre ao seu lado, mesmo que não a perceba. E assim, chora e torce por ti. Fica feliz e triste. Sempre te amando, sempre te protegendo... uma lágrima em uma face e um sorriso em outra... sem cobranças, sem mágoas... Ela é frágil e forte. Meiga e dura. E age sempre na hora precisa. Quem será ela?

terça-feira, 16 de agosto de 2011

A jornada do Ar - parte 4


Era dia de Mercúrio, e faria o encantamento no horário de Vênus, tinha um tempo ainda para descansar da longa jornada. A velha a fizera decorar cada detalhe para prevenir que não se esquecesse de nada.

A lua começava seu ápice, indicando também a chegada da noite. Iluminava o caminho dos que por algum motivo andavam por aquela região. O Ar brincava sorrateiramente, pregando pequenas peças em alguns desavisados. Era engraçado como conseguia observar o elemento unido-se aos outros com muita facilidade. Assoprava a Terra formando pequenos rodamoinhos e saltitava pela água fazendo um fina garoa tocar seu rosto.

De repente, como que caindo de um devaneio, sentiu a falta de um elemento. Que estranho, o fogo manifesta-se a luz do dia, com o calor do Sol. E mais uma vez o Ar soprou-lhe uma lembrança: o pacote que a velha lhe havia dado! Antes de abrí-lo precisava preparar o elemento faltante, e assim, iniciou os preparativos para a fogueira. Precisaria da Terra, da ajuda do Ar e da colaboração da Água, e assim, conseguiu uní-los. E assim, no horário de Vênus, iniciou o ritual.

Seguia os procedimentos que a velha havia passado, e preparou o saco retirando seu nó, que deveria ser jogado na fogueira. e do saco retirou várias pedras brilhantes, e podia jurar que seus brilhos tinham formas definidas, como que símbolos. Pode perceber que seus símbolos apenas se revelavam quando o reflexo da lua unia-se ao alaranjado da fogueira. Aquelas pedras eram especiais. Pegou uma, cujo símbolo parecia um X, finalizou o rito, e adormeceu...

Seu sono foi agitado, em seus sonhos encontrava a velha, que a guiava para um povoado estranho cujas pessoas estava definhando, e suas faces nunca sorriam, e não via crianças. Era como uma aldeia condenada. Acordou antes da velha dizer qualquer palavra, mas tinha seu sorriso em mente.

Abriu as mãos, a pedra que escolhera ainda estava lá, mas sem brilho, estava opaca, e não possuía símbolo algum. Sim, eram pedras realmente especiais. Juntou-as, e colocou-as novamente no saco, sabia quando poderia consultá-las novamente, e as guardou com cuidado junto aos seus pertences. Estava pronta para a partida, a velha havia lhe mostrado o caminho mais uma vez.

Agora, havia encontrado o Fogo, ele mostrou-lhe o caminho da fé.

O que lhe faltava agora?

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Devaneio

Passo aqui hoje para deixar algumas considerações sobre uma palavrinha que aparece frequentemente por aqui, mas percebo que muitas pessoas ainda tem dúvidas. Uso-a desde que assisti um desenho, que passava na cultura, chamado a Pedra dos Sonhos. E, talvez, por causa disso, achava que era óbvio que todos a conhecessem.



Pedi ajuda ao dicionário para conseguir um melhor resultado:


devaneio
     (de.va.nei.o) sm. 1. Ação ou resultado de devanear 2. Produto da imaginação; SONHO; FANTASIA; QUIMERA: Ficou deitada na cama perdida em devaneios. 3. Psic. História criada por alguém em estado de vigília 4. Divagação, delírio 5. Esperança vã [F.: Dev. de devanear ou do espn. devaneo. Hom./Par.: devaneio (sm.), devaneio (fl. de devanear).]


Então, sempre que observar o marcador "devaneio", pode ter certeza, foi um sonho acordado. Por isso frequentemente é em terceira pessoa e, às vezes, parece apenas uma história solta. Bem, podia estar solta, mas por algum motivo pesquei em um dos meus devaneios. :D

Beijinhos e bons sonhos!!

terça-feira, 9 de agosto de 2011

O Primeiro Portão do Sonhar

E aqui estou de volta com o desafio do primeiro portão do sonhar. O desafio parece simples, quando estiver sonhando olhe para as suas mãos.  :D

Tão fácil quanto encontrar uma nota de 3 reais!! Mas, bem, pense assim, existe uma chance, com alguma disciplina, é totalmente possível e mais importante: Verdadeira. Outra coisa, Castañeda depois de 6 meses tentando achou que era impossível, quando Dom Juan deu-lhe algumas "dicas".

"Claro que é possível. Esse controle não é diferente do controle que temos sobre qualquer situação em nossas vidas cotidianas. Os feiticeiros estão acostumados com ele e conseguem-no sempre que desejem ou precisem. Para se acostumar com ele você deve começar a fazer uma coisa bastante simples. Esta noite, em seus sonhos, você deve olhar para as mãos."

Reli isso na semana passada, e me veio a lembrança das tentivas anteriores, todas em vão. Quase consegui semana passada, como pode ver aqui em O Deserto, mas, admito, foi melhor não ter visto, não creio que tenha amadurecido o suficiente para encarar o segundo portão. Não tenho feito tentativas, e não fui atrás de nenhuma espécie de aprofundamento, apenas com as instruções e explicações de Dom Juan. O primeiro portão significa muito mais do que simplesmente olhar para as mãos. Na verdade, ele explica isso também, diz que mencionou mãos, mas que pode ser qualquer coisa, desde que você tenha consciência do que está fazendo. Essa é a parte que me deixou confusa, pois logo imaginei que consegui, algumas vezes, passar o portão por acaso, sem ciência.

"O primeiro portão é o limiar que precisamos atravessar tornando-nos conscientes de uma sensação particular antes do sono profundo. Uma sensação como um peso agradável que não nos deixa abrir os olhos. Chegamos a esse portão no instante em que nos conscientizamos de que estamos caindo no sono, suspensos na escuridão e na sensação de peso."

Mas se prestar atenção a esse trecho, tem algo além de simplesmente ter consciência do sonho:

"Alcançamos o primeiro portão do sonhar ficando conscientes de que estamos caindo no sono ou tendo, como você teve, um sonho gigantescamente real. Depois de termos alcançado o portão, devemos atravessá-lo podendo manter a visão de qualquer item do sonho."
 E mais ao finzinho do capítulo, o prórpio Castañeda tem dúvidas se chegou ou não ao portão, bom, quem já o leu sabe o quanto ele é questionador.

"— Você acredita que eu realmente cheguei ao primeiro portão do sonhar Dom Juan?
— Chegou, e isso já é muito. Você vai descobrir, enquanto prossegue, como vai ser fácil sonhar agora."

Eu também acredito que ele chegou, mas vou esperar um pouco mais para afirmar definitivamente algo sobre o meu portão.



Caso alguém possua sugestões, serão super bem vindas !!!

Bons sonhos.

sábado, 6 de agosto de 2011

O deserto

Caminhava com uma pessoa conhecida em meio ao deserto. Conversávamos sobre visões, sobre o oculto. Procurava por alguma visão, algum objeto, algo que pudesse focar meus olhos, mas não conseguia ver nada além de areia e sol. Tudo parecia não ter fim, mas não incomodava nem um pouquinho. Por horas, parecia que simplesmente caminhávamos por uma rua movimentada, com prédios altos e pessoas apressadas na calçada, mas sempre que pretendia observar alguma coisa mais a fundo, voltava ao deserto, ao sol.

Estava descalça, e sentia toda a textura da areia, ouvia as palavras daquele que passou a ser minha única referência, lembro-me pouquíssimo de suas palavras, apenas algumas soltas: consciência, caminhar.

Meus pensamentos confundiam-se com as palavras do guia, e a que mais lembro foi quando pensei em minhas mãos, mas não as olhei, sequer fiz qualquer movimento. Nesse momento, percebi que despertei, sabia-me sonhando e de repente, tudo passou a ser muito distante, até abrir meus olhos. Voltava a fechar, com a esperança de voltar ao deserto, mas ele voltou a apenas como uma lembrança, algo como vemos uma foto: não conseguimos entrar nela e vivenciá-la novamente.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Introdução à Arte do Sonhar

E mais um capítulo do projeto "sonhos", separei alguns trechos conforme achei conveniente, e que servirá como preparação as práticas que colocarei em breve.

"Dom Juan afirmava que nosso mundo, que acreditamos ser único e absoluto, é apenas um em meio a um conjunto de mundos consecutivos, arrumados como as camadas de uma cebola."
"Dom Juan explicou que, para percebermos essas outras regiões, precisamos não apenas desejá-las. Precisamos de energia suficiente para agarrá-las."

Castañeda, como já devem ter ouvido falar, teve como guia um velho índio, um "brujo", chamado Dom Juan. Ele tentar explicar a Castañeda como os feiticeiros entravam na segunda atenção e uma das descobertas, era entrar através do sonho. Um feiticeiro conseguia enxergar e assim tornava-se fácil tal  intento, mas, começaram a perceber que algumas pessoas realizavam involuntariamente, sem saber ao certo o que estava acontecendo, e isso acontecia através do sonho. E assim de forma inconsciente, e que muitos normalmente esquecem, não-feiticeiros adentravam outros mundos.

"Dom Juan afirmava que os feiticeiros da antigüidade desenvolveram um conjunto de práticas destinadas a recondicionar nossas capacidades energéticas de perceber. Chamavam esse conjunto de práticas de a arte do sonhar."

"Todo feiticeiro sente. Todo ser humano sente, mas o ser humano médio vive muito preocupado com seus afazeres, para prestar atenção a esse tipo de sentimento."

Acredito que todo mundo sonha, mas poucos tem consciência disso durante o sonho. Desde criança, eu sempre tive essa ciência. Por isso, não tinha pesadelos, se o sonho não estava bom, eu simplesmente mudava de canal. Lembro-me, vagamente, de algumas situações em especial, como quando certa vez eu sonhava que era perseguida, e corria com toda minha força, mas estava sendo em vão, eu seria pega, quando tive um momento de ciência "ei, estou sonhando! Então, vou voar... ". Costumo enxergar meus sonhos em terceira pessoa, como se assistisse um vídeo de minha vida, ou um trecho, e às vezes, atribuo a isso a como minha mente funciona. Pulando de cena em cena, como um dvd, e olha, eu fazia isso quando criança, e o dvd nem era projeto!!

"Custou-me muito esforço e muito tempo compreender o que é a segunda atenção. Não tanto por sua complexidade e complicação, que são realmente extremas, mas porque, assim que voltava à consciência normal, eu achava impossível não somente lembrar que havia entrado na segunda atenção: eu nem mesmo recordava que esse estado existia."

Existem 7 portões do sonhar, e o sonhador precisa abrir todos eles. Eles são os desafios/práticas que estarei postando em breve. Já vou logo dizendo, há um tempo atrás tentei, sem muita disciplina, e fiquei parada no primeiro portão. As coisas pareciam mais fáceis quando era criança. Talvez disciplina ajude, dicas, entre outras coisas. Muito provável que entre um portão e outro, acabe colocando alguma técnica que venha a descobrir, ou que seja sugerida. Por enquanto páro por aqui, e os deixo refletindo sobre o sonhar consciente, e por que pode ser interessante lembrar-se e entender mensagens. E para quem curte, sonhos e devaneios continuarão aparecendo por aqui. Sugestões são bem vindas.

Beijinhos

quinta-feira, 28 de julho de 2011

A Arte do Sonhar de Carlos Castañeda

Olá a todos,

venho aqui quebrar um pouco a rotina natural do Sanctorini, com sonhos e devaneios, apenas para frisar de que não esqueci do projeto ao qual me propus: fazer os exercícios/desafios propostos no livro A Arte do Sonhar e postar experiências. Bem, o livro não é fácil, talvez por isso o tenha começado tantas vezes (e sempre parado no primeiro desafio), e posso dizer que hoje em dia, talvez o desafio seja um pouco maior, já que minhas horas de sono (e consequentemente de sonhar) é bem reduzida: algo em torno de 6 horas. É, se fosse fácil, não seria um desafio né?

Vou deixar aqui a referência, e o primeiro desafio coloco no mês que vem... :D


Autor: Carlos Castañeda
Editora: Nova Era
Número de páginas: 301
Ano de publicação:  1993
Compre aqui!







Bons sonhos...  :-)

quarta-feira, 27 de julho de 2011

O Outro lado do espelho

A transição fora tranquila, havia trocado de mundos e agora estava em um lugar onde a noite já havia chegado. O Sol não mais queimava sua pele. O céu estava estranho, ou ao menos lhe parecia assim, tinha um coloração diferente do habitual. Nuvens pareciam tumultuar provocando um movimento turbulento, algo que lembrava muito o mar, parecia água após uma tempestadade, cor de terra. O vento completava o cenário, dando movimento a paisagem, que transmitia um movimento revolto e sombrio.

Sabia que chegara ali com um objetivo, mas não conseguia lembrar, algo bloqueava sua mente. As lembranças de seu mundo sumiam de mansinho, e os poucos lampejos que tinham eram reflexos de uma situação no mundo atual. Estava perdida, não sabia onde estava nem o que fazer. Olhava para a estrela desenhada em seu pulso, uma marca de seu mundo, de seu tempo, mas sem passado, sua missão tinha algo com o desenho. O medalhão que carregava possuía a mesma marca, a diferença é que esta brilhava, e sabia que se a esfregasse e pensasse em casa, estaria de volta a seu mundo. Neste momento, um calafrio percorreu lhe o corpo. Se esquecesse de sua casa, não poderia voltar!

Precisava sair dali, e procurou pelo melhor caminho, olhou novamente a estrela do medalhão, e esta tinha apenas uma das pontas brilhando.  Sabia que ela lhe indicava o caminho. Não lembrava de sua missão, mas ao menos seria guiada para ela. E assim iniciou sua caminhada rumando para o leste, em direção as montanhas e, ao que parecia, uma tempestade de areia.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

A Temperança

"Respire fundo, conte até dez, e solte...."

Custava a concentrar-se na aula, sua mente não a deixava nem ao menos realizar um simples exercício respiratório. Tentava a todo custo passar uma boa impressão à professora, mas sem sucesso.

"vamos lá, não adianta eu ficar aqui falando e vocês com a mente cheia de coisas... Deixem isso para depois... concentrem-se na respiração, assim conseguem desligar-se um pouco... "

Será? Com certeza para alguns pode resolver mas, não para ela. Bem que se esforçava, mas de sua mente brotavam pensamentos dos mais diversos. Yoga no horário do almoço parecia tão bom... mas não aquele dia... como se concentrar? Se o exercício mais indicado não estava funcionando. Ela precisava resolver tantas outras coisas, e o trabalho que não se resolvia, também pelo mesmo motivo: uma mente criativa atulhada de coisas...

E coisas, sabe para que servem? Para atrasar tudo!! Idéias apenas são úteis quando trabalhadas, caso contrário, viram coisas... sem vida, sem graça alguma...

A aula acabou, e nem fora percebida, ela simplesmente seguiu seu caminho, estava ocupada demais com seus pensamentos. Tinha pressa, precisava correr, e a aula apenas servira para deixá-la mais ansiosa. E enquanto ocupava-se apenas consigo, uma criança parou em seu caminho, procurou desviar, mas a criança a acompanhou. Estava com um copo cheio de suco em suas mãos, e por várias vezes quase derramou seu conteúdo enquanto a acompanhava na correria.

Resolveu parar. Olhou descrente para a criança, sem vontade de mencionar qualquer coisa. A criança foi mais rápida:

- Quero água...

Peraí, como você quer água se tem o copo cheio de suco? Por que não toma o suco? A criança podia entender seus pensamentos, não era possível, mas estava acontecendo:

- Eu não quero!

Mas... por que??

- Eu ganhei suco, mas eu não queria, e eu quero é água.

- Bem, tenho uma garrafinha com água aqui, mas precisará primeiro esvaziar seu copo, então posso te dar água...

- Mas eu não posso jogar o suco fora... alguém pode precisar!

Engraçado, a solução era tão simples, porém uma tempestade estava se formando. E a criança relutava em esvaziar seu copo para reenchê-lo com algo que queria tanto. Como convencê-la? Por alguns instantes esqueceu-se porque estava correndo, e teve uma idéia! Olha, eu não quero água, então, pode ficar com a garrafa ok?

- Sim!!! Então, você fica com o meu suco! E assim, o suco também terá feito sua parte...

Parte? Que parte? Estava sinceramente pensando em jogar fora assim que a criança virasse as costas... Que história é essa de parte?

- Oras, é simples, tudo tem um motivo, nada é por acaso. Tudo nesta vida nasce com um objetivo, com um propósito, mas isso não significa que irá chegar até ele. Alguns problemas no caminho acabam atrapalhando, ou até mesmo abreviando e dando tudo errado. O propósito do suco, é saciar alguém. Jogá-lo fora, irá apenas negar sua existência. Tera sido em vão.

Às vezes simplesmente não temos tempo de ouvir, pois acreditamos que nosso propósito seja o único e o mais importante de todos. Quantas vezes paramos para ajudar alguém apenas com o interesse de tirá-lo rapidamente do caminho, para que possamos seguir em nossa vida, sem que nos atrapalhem... Será isso mesmo? Devemos tirar do caminho? Não seria mais fácil esvaziar para então poder encher novamente? Tudo tem seu tempo, uma decisão precipitada, pode comprometer todo um objetivo.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Assalto

Era noite e caminhava por uma rua quando entrei em uma loja, estava vazia, mas logo encontrei algumas pessoas conhecidas. A loja estava fechando, quando alguns homens entraram com armas em punho e rostos cobertos.Patética cena de assalto: pessoas assustadas para um lado opressores para outro, alguns choravam enquanto outros, como eu, acompanhavam pacificamente, como se nada estivesse acontecendo.

Sem muitos motivos comecei a agrupar as demais pessoas e fazer um plano de fuga. A porta havia sido abaixada até um pouco mais da metade, e pelo vão que apenas passava uma pessoa rastejando, joguei um aparelho celular, muito provável que o meu. Reconheci a pessoa ao lado de fora pelos pés, e ficava mandando recados, nem tão sussurrados assim, para que fizesse uma ligação pedindo socorro. Enquanto isso, lá dentro, euzinha ficava enrolando e falando, na verdade, distraindo quem lá estivesse, querendo ganhar tempo. Não sentia nenhum tipo de medo, afinal eu sabia que não era real (isso é muito comum em meus sonhos). E ao fim, eu já não sabia mais se era mesmo um assalto, já que não houve nenhum tipo de roubo, apenas uma situação que foi "contornada". Acordei antes da ligação pedida ser efetuada.

Coloco aqui a referência que mais me agradou, e não entenda agradou como sendo "a mais positiva", a "com significado melhor", não, quando digo que agradou, é porque tem uma base. Além do que, as outras que encontrei são todas iguais: cópias de uma mesma fonte, e pior, que generaliza tudo! Como se fôssemos iguais... Vale a pena a leitura: http://www.ne-poesia.recantodasletras.com.br/visualizar.php?idt=2053731.

terça-feira, 12 de julho de 2011

O enigma

Conseguia observá-lo ao longe, estava com um capuz que escondia seu rosto, mas seu andar era inconfundível. Parecia apressado, tropeçava a toda hora pelo caminho. Seguia seus passos em silêncio, omitindo-me nas sombras da cidade adormecida.

Pela manhã havia recebido um aviso, escrito num bilhete de papel amarelado, colocado por baixo de sua porta: devia encontrá-lo no casarão ao final da rua. Sua caligrafia continuava a mesma, e assinava apenas com uma letra: T. (sua inicial?)

Conhecia-o há anos, mas por algum motivo, não tinha notícias há um bom tempo. Sempre fora misterioso, mesmo depois de tanto tempo, seu nome ainda era uma simples consoante. Quando encontraram-se pela primeira vez, ainda era uma criança, e não sabia bem como mas, o havia chamado. Ainda guarda com certo respeito a lembrança de seus olhos refletindo o fogo dos pilares em chamas. Hoje, quem a chamou fora ele.

Acompanhava-o de longe, apenas por cautela, como ele próprio já ensinara: acredite, mas desconfie se tiver chances.

Ele seguiu diretamente para o casarão. Não restavam mais dúvidas, tinha que ser ele! Mesmo assim, aguardou mais alguns minutos, precisava ter certeza. Um ato de desatenção poderia custar-lhe a vida. Sabia que ele odiava esperar, e assim o observou, tranquilamente, a caminhar de um lado para o outro, olhando para o céu de vez em quando, como que para nortear-se no horário. Se houvesse alguma chance de ser uma farsa, esta era então perfeita!

Ainda pelas sombras, seguiu em direção à casa, usando o portão lateral, assim somente seria vista quando já estivesse bem próxima. Ele porém, pressentiu sua chegada, parou olhando ao redor, em busca de um movimento qualquer, quando a avistou no quintal. Sorriu por baixo do capuz: a criança havia aprendido a lição, e havia crescido também.

Sem palavras, pediu para que se sentasse, apontando para um banco de madeira próximo ao que um dia fora uma mesa. Ele aproximou-se, tirou o capuz, e buscou em suas vestes algo que parecia uma bolsa. Colocou-a em cima da mesa, e dela tirou 4 objetos: uma xícara de chá, rosas brancas, uma pedra vermelha, e uma colher. Guardou a bolsa junto ao corpo, vestiu novamente o capuz, virou-se caminhando em direção a rua. Em poucos minutos já estava fora de vista.

Ele mais uma vez me entregara um enigma. Qual seria a resposta?

terça-feira, 5 de julho de 2011

O Rito

Parecia um quiosque, desses de clube, mas não sabia o que fazia ali. Conhecia algumas pessoas, e conseguia avistar meus pais. Saí dali e procurei conhecer melhor o lugar, na verdade, era como se conhecesse, dei uma volta completa, como se fosse a palma de minha mão, e quando retornei ao local da origem estava anoitecendo.

Queria sair novamente, quando notamos um grande número de pessoas se locomovendo para a mesma direção. Não conseguia ver o que era, precisava chegar mais perto, e assim não somente eu, como todo o povo do quiosque resolveu sair e seguir à multidão. Ao longe, no que pareciam várias quadras de esportes pude enxergar um grupo com veste vermelha e capas pretas. Eu os reconheci imediatamente, e meus passos se aceleraram.

Quando cheguei mais próximo, pude ver que dançavam, como em uma apresentação. Questionei-me porque não estava ali, quando a Sacerdotiza T me respondeu "apenas não é o momento". Senti como se não pudesse andar, queria estar ali, no meio deles... e Ela ao meu lado dizia, "mas você está aqui! Mas as cores deste sabá são: vermelho, preto. Você é o branco!".



Eu sou? Como assim?? - e assim acordei sabendo que não podia esquecer do que importava...

Gratidão.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Confiar é preciso



A garota estava só e encaminhou-se para a estação de trem mais próxima. Devido a sua condição de gestante teve algumas dificuldades para entrar no meio do tumulto que se formava para entrar no vagão. Esperou um pouco, até que foi conduzida e para sua surpresa, o vagão não estava tão cheio como imaginara. O tumulto inicial desfez-se como que por magia, e conseguia andar livremente pelo corredor, mas sem sentar-se, mesmo porque não estava procurando por um lugar. Gostava de observar as pessoas, cada qual em seu mundo, em seu único Universo em que eram donas de si, ou pelo menos, achavam isso.

Possuía um papel em suas mãos, o endereço ao qual precisava chegar, estava no caminho certo, mas começou a ter dúvidas quando olhou pela janela e viu montanhas. Sentiu medo, de repente não sabia mais onde estava, e olhava para o papel com o endereço de uma clínica. Bom, iria ao médico, mas já não se lembrava como finalizar seu trajeto, olhou ao redor, meio que num misto de desespero e vergonha, o trem parou, várias pessoas desceram e outras poucas subiram. O caminho parecia ficar deserto a cada estação. Era apenas ela e o bebê.

Estendeu o endereço para um grupo de pessoas, e todas balançaram a cabeça negativamente. Olhou ao redor, e viu uma velha a tricotar, mostrou-lhe o endereço, e ela lhe sinalizou que não sabia ler. Encontrou uma criança, estranhou que estivesse sozinha, olhou ao redor, e não encontrando mais ninguém, foi em sua direção, mesmo na dúvida se não teria o mesmo problema que com a velha. O pequeno tirou-a do devaneio quando puxou a barra de seu vestido levantando seu braço para pegar o papel. Seus olhos atentos devoraram o papel, sorriu, e respondeu-lhe com as janelinhas evidentes, que estava no caminho certo, mas que precisava descer na próxima estação, deveria sair pelo lado amarelo, e seguir em direção a banca de jornais.

Com uma cara de espanto, e um outro tanto de dúvida, a garota agradeceu, olhou ao redor, queria mais uma opinião, estava com dificuldades de acreditar na informação do garotinho, mas era a única alternativa.

Desceu assim que o trem parou, pouquíssimas pessoas saíram, procurou por qualquer referência amarela, caso não encontrasse, já poderia embarcar no próximo trem. Foi atrás de pessoas que passavam agitadas, quase a empurrado, mas ninguém lhe concedia um segundo de atenção, quando encontrou uma enorme placa amarela, fazendo menção a um plano de saúde, não encontrou mais nada amarelo, ficou apreensiva, mas resolveu sair. Na rua, a multidão havia se multiplicado, teve receio de continuar e com dificuldades encontrou uma banca de jornais, um pouco longe. Seguiu seu caminho, trombando em pessoas apressadas, cheias de pastas, com telefones, bips. Que lugar louco!

Perto da banca de jornais, conseguiu parar um casal e ao estender-lhes o endereço, ambos sorriram e lhes apontaram a placa da rua. Estava no lugar certo. O garotinho não a enganara. Seu bebê também pareceu vibrar, e entre um empurrão e outro, começou a sorrir, devaneando uma situação que poderia ser provável.

E por que não ?

terça-feira, 21 de junho de 2011

Um brinde a vida, um brinde a Yule

Caminhava sozinha, era noite, uma brisa suave beijava-me a face indicando o caminho correto. Longe da trilha já havia um tempo, não tinha dúvidas de que aquele era o caminho. Ouvia um riacho ao longe, e alguns pássaros noturnos em suas canções solitárias, brindando uma nova expectativa, brindando simplesmente ao fato de ainda existirem.

Cheguei ao riacho mudando meu percurso em direção a ponte. Apressei-me e assim o avistei sentado na rocha mais próxima ao carvalho, conforme combinado. Estava entretido em meditação, e silenciosamente me aproximei. Havia anos nos encontrávamos apenas nos solstícios, sempre no mesmo local, no mesmo horário. Sentei-me a sua frente, e seus olhos abriram-se, num profundo torpor. O transe meditativo ao qual se submetera servia para reduzir sua ansiedade. Sorriu. Nos abraçamos e um beijo aqueceu a noite fria. Entre sussurros de saudades, pude ouvir com clareza:

- Sabia que iria se atrasar.

Estávamos novamente juntos, na noite mais longa do ano. Não parecia de modo algum a mais longa, e no fundo, sempre temia que fosse a última. Cada segundo era valioso, e assim procurávamos aproveitar cada momento. Trocamos nossos amuletos, como sempre fazíamos, recebi o cordão com a maçã dourada, e entreguei a pulseira com o martelo âmbar. Esforçávamos para não gastar o tempo com lágrimas traiçoeiras, estas ficavam para depois, quando o tempo já havia caçoado de nosso ser, de nossas almas. Lembrávamos e falávamos apenas de coisas alegres, e o quanto sentíamos saudades um do outro. Em como era difícil suportar tanto tempo afastados. E como perdíamos muito tempo falando sobre o que havíamos passado, resolvemos deixar por escrito, e assim, também trocávamos nossos diários.

E assim passávamos nosso tempo, antes de voltarmos, cada qual para seu mundo. Cada sensação, palavra ou gesto, eram guardados em nossas lembranças. A vontade de ficar ali para sempre era grande, mas seria vital. Nossa frágil casca não suportava um ambiente diferente do natalício. Não mais compartilharíamos um mundo. Não tão cedo. Ao menos havíamos encontrado um jeito. Trilhamos caminhos diferentes, mas que sempre conduziam ao mesmo lugar, ao mesmo poço, a mesma vila. E logo o sol nascia, nos concedendo sua luz, para que enxergássemos com outros olhos, e pudéssemo notar o quanto já havíamos mudado, amadurecido. Entretanto, o brilho nos olhos continuava o mesmo. Assistíamos o pôr-do-sol que mais uma vez era o mais belo de todos. E mais uma vez, aproximava-se o momento de partir. A angustia voltava, lágrimas teimavam em vir, e prometíamos guardar o amuleto em segurança. Sem ele, não poderíamos voltar no próximo solstício. Os amuletos eram a chave para esse caminho, um presente de Freyja.

Assim, nos despedíamos, sem saber se haveria outra vez. Se ainda trocaríamos nossos amuletos. Corpos e almas não queriam se separar novamente, e assim com lágrimas, cumpríamos o tratado. Ele partia primeiro, sem olhar para trás. Quando não o avistasse mais, e assim que as lágrimas permitissem, iniciava meu retorno, tentando encontrá-lo no caminho. Em vão. Como sempre, uma leve garoa me encontrava na volta, e sentia seu beijo em minha face: até breve.

Feliz Yule!

quinta-feira, 9 de junho de 2011

O banquete

Estáva num campo de areia, o clima estava quente, e andava por várias mesas postas. Eram grandes e estavam preparadas para receberem em grande quantidade, só tinha um detalhe, não tinha comida alguma. Uma amiga veio ao meu encontro, estava tranquila, disse que estava(m) me esperando e que precisávamos nos apressar para preparar o banquete. (mas hein??)

Entendendo ou não, a segui para um lugar amplo, branco, fechado apenas no teto, sem paredes, e lá encontramos mais pessoas, cada qual concentrada em sua tarefa. Um homem de bigodes veio falar o que deveríamos fazer: peixe! E precisava ser rápido, pois o tempo estava acabando. E assim fomos, eu e minha amiga, para um balcão a fim de começarmos a preparar o prato. Tudo isso na maior tranquilidade, como se tivéssemos todo o tempo do mundo.

Decidimos qual peixe fazer, como, onde, o que usar, chegando a ser cômico a seriedade da coisa. Em meio a escamas e temperos, acordei.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

A jornada do ar - parte 3

Caminhei por 3 dias e 3 noites, parava apenas para alimentação, concedendo descansos com intervalo de 3 horas. A pressa fez com que sentisse o vento mais cruel e rude. Precisava sair do vale antes da lua encher no céu. A lua crescente me acompanhava clareando as noites que passei caminhando por entre valas e pedras. O presente da velha podia ser aberto apenas no ápice da lua, mas não podia ser aberto no vale.

Desejava com profundo ardor que valesse a pena.

Acompanhava um riacho, mas por vezes ele sumia, preocupava-me quando não encontrava uma trilha ao seu lado. Não podia afastar-me muito, pois segundo a velha "a Água lhe ensinará o caminho...", sendo assim perdê-lo de vista era inviável. Em 3 dias o Riacho me ensinou que preciso ser maleável e aprender a contornar barreiras em meu caminho. O Vento me dizia para derrubar tudo e passar pelos vãos. Minha tarefa, naquele momento, era unir seus ensinamentos.

Água e Ar o que querem me ensinar?

Por vezes a trilha mostrava-se íngreme e perigosa, às vezes estreita e úmida, oras sombria e solitária. O Vento falava animadamente todo o tempo, mas o Riacho apenas seguia seu curso, em silêncio, apenas gritando em momentos de perigo ou atenção. Comecei a me acostumar com seu jeito.

O terceiro dia foi o mais difícil, estava angustiada não tinha certeza se chegaria, o caminho pedia voltas que não só atrasavam minha chegada, como judiavam de meus músculos já cansados. Adiava os bons momentos de descanso, pois sabia que a vontade de parar "no lugar ideal" manteria-me caminhando. Isso também garantia que não parasse mais tempo que o devido.

Grande foi minha alegria, quando vi os limites do vale, ele chegava num rio, como uma linha que divide duas áreas, precisava cruzá-lo até o anoitecer. A vontade era correr, mas o caminho não permitia, queria jogar-me com o Vento, mas o Riacho pedia prudência. O caminho estava úmido e escorregadio, naquele momento, precisava apenas de paciência.

O Sol se pôs, e o entardecer dava um colorido confuso a minha volta, as margens do Rio estavam recheadas de pedras. Não encontrei ponte. A água descia da montanha, estava gelada. Consegui algo para me apoiar, uma haste, e seguindo o curso do Riacho, consegui atravessar o rio no trecho que parecia mais raso. Do outro lado, o vento me castigava, mostrando-me o quanto poderia ser cruel. Sentia cada parte de meu corpo congelando. De volta a Terra, sorri. A Lua acenava, aproximando-se de sua fase mais cheia. Estava exausta.

Havia conseguido.

domingo, 29 de maio de 2011

A Jornada do Ar - parte 2

A casa era velha como todas as outras da vila e de seu interior vinha um cheiro forte de café. A fumaça dava o único indício de vida, e consequentemente, alimento. Fazia dias que não tinha provisões para abastecer. Havia racionado alimentos, e agora precisava acreditar que naquela casa encontraria algo.

Quando aproximei-me da porta e percebi-a aberta, bati palmas e nada aconteceu. Resolvi dar toques na porta, e a mesma se abriu revelando um interior iluminado pelo forno a lenha onde uma chaleira fumegava. O cheiro de lenha queimando tornava o ambiente mais acolhedor.

- Olá !!! Oláaaa?

Minha voz ecoou no ambiente que parecia vazio, até que vi uma pequena sombra surgir detrás do forno. Era uma velha de cabeça toda branca, apoiava-se em um bengala, e abria um grande sorriso.

- Você demorou, percebi você chegando quando estava na vila. Demorou muito por lá! Preparei café e pão, sei que está com fome. Sente-se.

Não precisava muito para perceber-me com fome, sem comer direito por uns dias, minha aparência não devia ser das melhores. A fome não permitia que fizesse qualquer questionamento. Tinha o que precisava no momento, não tinha por que questionar. Sem reagir, fiz apenas o que me instruia.

Quando acordei, o sol já estava se pondo, mas ainda ouvia o zumbido do vento nas colinas. Conseguia ouvir portas e janelas abrindo e fechando na vila distante. Desta vez, o cheiro que vinha da cozinha era diferente, parecia adocicado, lembrava o cheiro de frutas. Procurei pela velha, e não a encontrei, mas a mesa estava novamente posta, algumas ervas queimavam num pote, e na mesa, um bolo esfriava. Ouvi passos.

- Achei que não acordaria mais!! Você precisa continuar seu caminho!!

Enquanto falava, deixava uma cesta no chão, se aproximando, entregou um saco, estava fechado com um nó.

- Abra apenas na lua cheia, quando estiver bem longe deste vale! Partirá amanhã, leve tanta provisão quanto possa carregar. A jornada será longa.

O ar de mistério da velha calava qualquer pergunta, não tinha como não obedecer. Guardei o quanto podia, e preparei-me para partir assim que amanhecesse.

O caminho apenas estava começando.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Novos Projetos

Visando aprimorar o conhecimento e ao mesmo tempo compartilhá-lo, estou com novos projetos. Pretendo conseguir interpretar os sonhos, para isso conto com a ajudinha do Zé, que vez ou outra aparece por aqui. E para ter um 'rumo', vou começar (voltar) a ler o livro do Castañeda, A Arte do Sonhar. É um livro que possui exercícios, são gradativos, lembro-me de já ter tentando iniciar, mas sempre tive
várias distrações, quem sabe por aqui consigo algumas cobranças. Como sei que o livro é 'pesado', pois não se pode continuar, sem finalizado o exercício, vou ficar colocando as experiências, com certeza colocar as dificuldades, e dependendo da situação, colocar artifícios para contorná-los.

Conto com a ajuda de todos, convidando a também participarem dessa jornada.

De Virada_2009

quinta-feira, 19 de maio de 2011

A jornada do ar - parte 1

O vento soprava forte, a vila parecia vazia, apenas pequenos rodamoinhos davam algum movimento por onde passava. As casas eram antigas,sua pintura desbotada não deixavam dúvidas, tudo ali parecia gritar, mas o único som audível era o ruído do vento e o ranger de portas e janelas, provavelmente esquecidas abertas.

Tudo parecia ter sido deixado para trás, as pressas, sem nenhum cuidado em levar algo, apenas vestígios do que foi um dia e nada além. A vila estava abandonada e essa visão causava um torpor difícil de explicar, como se algo lhe segurasse naquele momento e pedisse ajuda.

"Traga-me de volta a vida" - o vento assobiava pelos cantos aos visitantes que por algum infortunio por ali passasse.

Nada que pudesse sussurrar seria ouvido naquele momento, pois naquele mesmo instante vi uma casa aos pés da montanha, cuja chaminé emitia uma tênue fumaça. Era o primeiro sinal de vida que encontrava depois de tantos dias caminhando.

Meus pés cansados não permitiam que andasse mais rápido e a ansiedade penalizava cada músculo para que dessem mais de si. Não era o bastante, a casa parecia distanciar-se a cada passo. Apesar do vento trazer um ar fresco e um forte cheiro de café, minha respiração ficava cada vez mais pesada, talvez por não lembrar quando tinha sido feita a última refeição. Desde que as provisões acabaram, por alguma estranha razão todo e qualquer povoado que encontrara até então estavam abandonados. Quando decidira fazer esse caminho, fizera todos os planos necessários, mas seus mapas não previam cidades vazias.

Aquela fumaça, era a única esperança.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Visitas no almoço

Estava num quintal, e sabia que nele seria preparado o almoço, que desta vez, seria diferente, pois convidados muito distantes estavam sendo esperados. O que eu sabia dos convidados era apenas que eram parentes de meus avós, e portanto, meus tios distantes... Láaaaaaa das terras orientais e nórdicas e frias...

Bom, quando chegaram, fui observar, e pareciam pessoas normais, nada que chamasse atenção ou os diferenciasse, a não ser que começassem a falar! É, pois é, ele falavam outra língua... e só quem entendia era minha vó... e só quem a enxergava era eu... :D

Ok, então comecei a 'interpretar', e assim passei a ser referência sobre o que os 'tios' queriam ou estavam precisando. Na verdade, era fácil, eles queriam algo diferente do que estavam acostumados, e não sei ao certo por que, camarões começaram a ser preparados de diversas formas, principalmente
fritos. Não me lembro para quem pedi, mas pedi a alguém que descascasse um abacaxi, e prossegui delegando tarefas. Eram apenas 3 ou 4 senhores, poucos, mas dividimos as pessoas (família, tias, pais...) em dois ambientes.

Uma das situações que me aborreceu, foi quando coloquei uma garrafa de vinho branco na mesa em que sentaria, e fui levar um rosé na outra, quando voltei para o 'meu' lugar, o povo já havia acabado com tudo, não havia sobrado nem uma gota (é ou não é pra ficar furiosa?). Ok, mataram meu Sauvignon, então fui procurar outro, não encontrei, e acabei me distraindo pela outra mesa, acabei ficando por lá.

Os 'tios' comeram por bastante tempo, e sempre elogiavam ou pediam mais, bebiam muito rápido, na verdade, parecia que eu estava servindo água fresca, o clima estava ameno, e o cheiro dos camarões estavam impregnando no local. Estava arrumando acomodações num outro ambiente quando acordei.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Ruínas no deserto

Estava com o Gi, e andávamos em meio a areia, o sol estava forte, e procurávamos por uma sombra, quando vimos algumas ruínas. O Gi saiu correndo na minha frente, e sumiu entre as paredes destruídas, fui atrás, e entramos no que parecia ter sido, um dia, uma sala. Não haviam paredes inteiras, apenas os restos.

A sala parecia ser grande, e mais a nossa frente, havia uma abertura, que um dia devia ter sido uma porta, e por ela passamos. O lugar estava iluminado por uma tocha, minha mãe estava ali, próxima a uma outra porta. o Gi correu em direção ao que sobrou de uma estante, ainda havia livros, eram volumes enormes, com capa dura, nem todos estavam inteiros, e indo em direção a minha mãe, vi que a sala em que estava tinha o chão de terra, e várias estantes, todas derrubadas, parecia que um tornado por ali havia passado. Ouvi a chamar pelo Gi, mas ele estava entretido em uma estante, parecia procurar por algo específico.

Entrei na sala seguinte, e comecei andar por entre as estantes...

(não briguem comigo, mas o despertador tocou!!) :D

Ps. o Alarme de movimento, já havia tocado, isso significa que o sonho ocorreu nos 10 minutos que separam o primeiro alarme para o segundo.

sábado, 7 de maio de 2011

Mãos e unhas

E mais uma vez eu tendo sonhos de Penélope Charmosa, estava em algum lugar, ao ar livre, cuidando de minha unhas, pintando, mas não gostava do resultado, achava tudo estranho, principalmente a cor! A primeira pincelada, saiu uma cor rala e escura, algo que lembrava muito um verde com dourado de fundo (olha que chique, cremoso e cintilante num único vidrinho!!). Quando olha para o resultado do todo, achava horrível, a cor na unha, parecia mutante, continuava mudando, e ai, decidi que passaria de novo, peguei um outro esmalte, desta vez emprestado, e voltei a pintar, mas em cima do anterior, e... imagine, a cor continuou a mesma, mas a coisa não estava mais rala, ficou grossa, obviamente mil vezes mais ridícula do que da primeira vez, e eu ficava olhando para minhas mãos e unhas, achando muito estranho o que acontecia com a cor, sempre enxergando verde e dourado...

Curiosidades: 
Engraçado, escrevendo agora sobre esse sonho, lembrei-me que certa vez comecei a fazer os exercícios de um livro de sonhos (Castañeda), o qual parei no primeiro, já que precisava completar o primeiro exercício para seguir adiante. Qual o primeiro exercício? Sonhar e olhar para as mãos. A única diferença, eu deveria ter consciência disso.
Veja mais: A Arte do sonhar, Carlos Castañeda


sábado, 2 de abril de 2011

O dragão branco



Caminhava pela areia, sentia o cheiro do mar cada vez mais próximo, e antes que pudesse vê-lo, percebi uma velha senhora caminhando em minha direção. Não vi de onde vinha e nem questionei, apenas retribui o sorriso, enquanto me acenava para que a seguisse. Ela começou a caminhar na direção do mar...

Já conseguia ver o mar quando me pediu que sentasse, e assim o fiz, ela me esperou, para poder sentar-se a minha frente, continuava sorrindo. Parecia feliz mas nada falava. Ela sinalizou para que eu olhasse o mar, e percebi então que não ouviria sua voz.

As águas estavam agitadas, e ondas quebravam a todo momento, não sabia o que precisava enxergar, quando comecei a ouvir uma voz... Olhei para a senhora ao meu lado, muda e sorridente, não era ela, e a voz voltou apenas dizendo "não tente entender, apenas observe e escute". As ondas pareciam lutar contra um inimigo invisível, tamanha sua violencia, cheguei a sentir medo, quando vi sua furia se aproximando, mas nada, nem um respingo chegava até nós.

A altura das ondas e sua imponencia assustavam, ficavam mais altas, paravam, e quebravam, e foi num desses instantes, enquanto uma onda formava-se e crescia sem parar, que voltei a ouvir a voz... sentia que era a velha falando, mesmo sem voz, ela simplesmente dizia, "observe o dragão branco, ele está voltando...". Enquanto isso eu olhava o mar, e apenas via o mar, revolto em suas grandes ondas, quebrando com força contra o inimigo invisível...


Curiosidades:
- Dragão branco

quarta-feira, 23 de março de 2011

Encontro com Saturno

Estava na estrada, num desses momentos em que dirigia apenas pelo prazer, sem rumo certo, apenas para reflexão... A constante na estrada costuma trazer conclusões rápidas, onde um devaneio não pode durar mais de dois segundos. Com a atenção dobrada, é fácil esvaziar a mente, e conseguir concentrar-se para o que realmente importa.

Não foi diferente nesse dia, havia entrado em conflito após fazer algumas contas, quando resolvi refletir o por que desse 'balanço' nunca equilibrar-se. Tudo estava confuso, de repente ouvia vozes fazendo perguntas e mais perguntas, cujas respostas eu sabia, mas tinha vergonha de pronunciá-las: o que você fez, o que você tem, o que você é, o que pretende mudar, o que pretender ganhar, aonde quer chegar?? Elas assolavam meu ego, a negativa não saia de minha mente, de meu ser... Nada! Nada! Nada! E... Não sei, não sei, não sei... O odioso não saber, que paralisa muitos e assusta outros tantos que chegam nessa passagem. Lembrei-me de Atreiú (História sem fim) quando tenta passar pelas esfinges - "somente aquele com o coração sincero consegue passar..." e qualquer dúvida sobre sua coragem, seu ser, pode impedí-lo de passar, e seu caminho ter um fim não desejado.*

Comecei a buscar um lugar para parar um pouco e tomar um bom e forte café, pois percebi que o passeio daquele dia iria durar um pouco mais do que de costume. Não conhecia a estrada, levei quase meia hora para encontrar um lugar aberto, claro, sempre faço essas viagens a noite, é como uma proteção. O estacionamento estava praticamente vazio, podia chegar a algumas conclusões: ninguém mais com insônia ou o café seria uma droga. Bem, não tinha escolha, parei ali mesmo. Pedi o café, e voltei ao carro devagar, notei alguém sentado perto, na guia. Entrei no carro, mas minha atenção voltou-se para a figura parada próximo ao carro, era um velho, ou alguém que aparentava ser velho, e brincava com um isqueiro. Não fechei a porta, virei-me em sua direção, e ofereci o café, que foi recusado rapidamente. Iria deixá-lo ali, o que me importava, tinha outras coisas a buscar, refletir, que diferença faria??

- A diferença está em como encaramos tudo... a vida, os problemas, as pessoas...

- O que? O Senhor está falando comigo?!?!?!?

- Tem mais alguém aqui?

Ok. Entendi. Agora mendigos leem pensamentos, e respondem as grandes dúvidas da humanidade, ou sei lá, simplesmente do meu insignificante ser...

- Insignificante é a maneira como Você decidiu se enxergar!

- Ok. E posso saber quem é você ?

- Isso não importa agora, importa quem é Você! Não importa nem a maneira como me vê, mas atente ao fato que posso ser apenas um espelho... Eu sou o que sou, e Você, é o que é? O Tempo não pode ser recuperado, então, por que perdê-lo buscando o que já encontrou? Todas as perguntas, tornam-se respostas um dia, mas quando viram respostas, as perguntas mudaram e a isso chamamos ciclo. E o ciclo nunca pára, não importa onde você esteja. O problema, não são as perguntas, mas o que Você faz com as respostas.

Entrei no carro, havia encontrado respostas demais para uma viagem só, olhei pelo retrovisor, e como já esperava, o velho não estava lá. Até a próxima, pois agora, estou indo pra casa. Quem sabe fazer mais perguntas...


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* "...a Porta do Grande Enigma..., ...as duas esfinges. Essa porta está sempre aberta... O que é lógico. Não tem batentes. Apesar disso, ninguém pode passar para o outro lado, a menos que..., as esfinges fechem os olhos. E sabe por quê? Porque o olhar de uma esfinge é totalmente diferente do olhar de qualquer outro ser. Nós e todos os outros seres olhamos para alguma coisa. Vemos o mundo. Mas uma esfinge não vê nada: em certo sentido, é cega. Em contrapartida, seus olhos transmitem algo. E o que seu olhar transmite? Todos os enigmas do mundo. Por isso, as duas esfinges estão sempre a olhar uma para a outra. Porque só uma esfinge pode suportar o olhar de outra esfinge. E agora imagine o que será de uma pessoa que se atreva a interferir na troca de olhares entre ambas! Fica ali, petrificada, e não poderá mover-se antes de ter decifrado todos os enigmas do mundo."
(História Sem Fim, de Michael Ende)

terça-feira, 1 de março de 2011

Ajuda silenciosa

A garotinha estava sentada no meio fio, chorava copiosamente quando lhe perguntei o que havia acontecido para tanta tristeza. Aos soluços, ela me explica que havia derrubado o leite, e o pote havia se quebrado e não tinha outro para substituir, - ela carregava o leite em um pote de vidro, sua capacidade devia ser maior que 1 litro - e diante disso, estava com medo de voltar para casa, preferia ficar ali, chorando e chorando.

Não sabia como ajudá-la, pensei, e tentei arrumar uma solução, nenhuma de minhas sugestões foram aceitas, tal como "o que acha que explicar para sua mamãe que foi sem querer?", e "se você disser que paga o próximo?". Nada surtia efeito, era praticamente impossível plantar um sorriso naquele pequeno rosto. Resolvi deixá-la, não sabia exatamente o que fazer, mas ali, nada conseguiria.

Continuei a caminhar na rua de paralelepípedos, mesmo depois de muito andar, ainda ouvia os soluços da garotinha. Eu não sabia para onde estava indo, mas parei em frente ao que seria a possível solução: a mercearia. O dono estava lendo um jornal distraídamente ao fundo do balcão, o rapaz que o ajudava ia de um lado para o outro atendendo desde crianças assustadas a senhoras apressadas. Estava difícil de chamar a atenção de alguém naquele lugar, mas tive uma idéia!

O dono parecia uma boa pessoa, mas estava por demais entretido em seu jornal, assim desisti dele, ao menos, por enquanto. Olhando melhor, notei uma jovem senhora a um canto, esperando tranquilamente por sua vez, seus olhos doces chamaram minha atenção, assim a escolhi para ajudar a garotinha triste. Esperei que ela fizesse o pedido, e sussurrei lhe que poderia comprar um pote a mais de leite, para o caso de uma eventualidade, como fazer seus famosos pãezinhos para uma visita inesperada... Para minha surpresa, rapidamente ela atendeu meu sussurro, e dobrou a quantidade de leite, farinha, fermento. Fiquei feliz, havia conseguido uma parte, agora precisava mudar seu caminho, o que não era difícil, já que a garotinha estava a alguns quarteirões da avenida principal, e como chorava alto, difícil não chamar atenção. De qualquer forma, acompanhei-a, para não haver enganos, seus ouvidos atentos logo se alarmaram e procuravam a origem do choro, sem influência alguma, ela encontrou a garotinha. Fiquei feliz por ter escolhido a pessoa certa.

A jovem ajoelhou-se aos pés da menina, e perguntou-lhe o que havia acontecido. A garotinha olhou para mim, e falou "você não precisava ter trazido sua mãe!!" - enquanto isso, a jovem a encarava com olhar duvidoso, e insistia em saber o que havia acontecido.

- "Por que você não contou pra ela? Eu derrubei o leite e não posso voltar assim para casa!"

E voltou a chorar e encolher-se, aliás, suas lágrimas praticamente não existiam mais, de tanto que já chorara. A jovem, com um pouco de dificuldades, entendeu, e ofereceu um de seus potes a garotinha, que recusou, e disse que seria pior chegasse em casa com um pote diferente. A moça insistiu, explicou, disse que a acompanharia, mas nada colocava um sorriso naquele rosto. Assim, sugeri que deixa-se ali o pote e partisse, e ela assim o fez.

Quando a jovem levantou-se, e continuou seu caminho, deixando um pote para trás, a garotinha parou um pouco, e entre soluços e perguntou-me:

- Você não vai com sua mãe?

- Eu já estou com ela... :-)

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A casa das recordações

Seguia por uma rua, minhas lembranças apontavam para um lugar na infancia, mas o lugar não se parecia com a lembrança. A cada esquina, buscava por sinais de familiaridade, mas via apenas prédios comerciais, ou condomínios luxuosos, cheios de segurança e praticamente impossíveis de se espiar. Continuava andando, e comecei a ver algumas pessoas conhecidas, mas para meu terror, elas não me reconheciam. Procurei por um espelho, queria saber se eu estava tão diferente, mas não o encontrei, busquei pelo meu reflexo nas vitrines, sem sucesso... Como eu podia lembrar das pessoas e não ser recíproco? Abordei algumas pessoas, mas todas olhavam com estranheza e continuavam seus afazeres.

Corri em busca de uma resposta, e tudo que encontrei, foi um lugar vazio, uma natureza morta e humanos sem viço, olhares frios, parados, olhando para lugar algum, tive dúvidas se podiam enxergar ou mesmo ouvir. Eu sabia que precisava chegar a um casebre que vi ao longe, algo me dizia que encontraria ali o que tanto buscava. O sol dividia o céu com a lua, estava em um momento entre o dia e a noite, segui adiante, afastando-me da cidade de lembranças esquecidas. A estrada era de terra batida, como se muitos carros por ali passassem, sua proximidade com a cidade gerava um grande contraste, mas tudo que fiz foi andar.

Quando cheguei ao casebre, ele não parecia tão pequeno, foi como se houvesse crescido no caminho, ficou majestoso e minha curiosidade misturava-se a angustia. O que quer que encontrasse ali, esclareceria todo o mistério da cidade. Bati a porta, e meu toque parecia ecoar no vazio. Insisti, bati mais e mais, cada vez com mais força, quando ouvi passos do outro lado. Sim!! Alguém estava vindo!! Ouvi vários trincos e fechaduras serem destrancados, e a porta se abre num rangido fúnebre. Espero ansiosa pelo rosto do anfitrião, mas, para minha surpresa, não há ninguém. Entrei, mesmo sem convite, chamei sem resposta, estava em uma sala cujas paredes estavam abarrotadas de retratos de paisagens, casas, pessoas, animais. Segui para a próxima sala, e a mesma estava coberta de manuscritos colados as paredes, e muitos livros em prateleiras, na mesa, no chão, nas poltronas. Olhei rapidamente em cima da mesa, peguei uma carta, mas não a li, e segui para a próxima sala, e para minha surpresa ali havia apenas um enorme baú. Abri facilmente, e dentro dele encontrei dois arcanos: o hierofante e os enamorados.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

A maçã

Era uma vez um pequeno ser, não tinha corpo, era apenas uma aura luminosa, cujo tempo de voltar a Terra havia esgotado-se, mas ainda não havia conseguido.

Desde então morava ao lado daquela que seria sua geradora, sua força, caminhando noite e dia como uma fiel guardiã, esperando uma oportunidade para ser parte de sua protegida. Tentava de tudo para aproximar-se mais e concluir seu intento, e quanto mais tentava, mais enfraquecia, estava prestes a desanimar, não conseguia entender por que tantas muralhas começaram a crescer em seu caminho, não conseguia mais transpor ou mesmo chegar perto, começou a extinguir-se e perder-se. Pensou em desistir.

Um dia porém, teve uma oportunidade única, conseguiu atravessar um portal, não sabia aonde chegaria, imaginou uma nova chance, arriscou-se, e através da passagem conseguiu chegar aos sonhos de sua mãe! Ela estava parada, sentada embaixo de uma macieira, um livro em mãos, tinha os cabelos longos, e um ar tranquilo. Aquela era sua oportunidade, mas ainda não sabia ao certo o que poderia fazer. Precisava chamar a atenção de sua mãe, mas precisava ser prudente, não podia assustá-la, teria que chegar de mansinho, e deixar um recado.

Chegou mais perto, pisando em algumas folhas secas, e pequenos galhos no chão, seus passos fizeram com que sua mãe parasse a leitura, e levantasse o olhar, procurando em volta, até que parou olhando fixamente em sua direção. Sua mente parecia um turbilhão, suas emoções pareciam não ter controle, rapidamente mostrou-se como uma criança, uma menina, de uns 2 anos, de cabelos longos e pretos, e olhos enormes, que conseguiu apenas expressar um sorriso. O livro fora fechado, a atenção voltada para si, uma maçã caíra, mas continuaram se encarando, ela sabia, simplesmente sabia, nada havia sido dito, mas em seus olhos, lágrimas brotaram. Ela meneou a cabeça em negativa, era difícil entender aquele gesto, por quê?? Qual o sentido, qual sua razão? O que havia feito? Tínhamos um acordo não se lembra ? Ela tampou o rosto com as mãos para esconder as lágrimas, não queria mais encará-la, queria fugir, mas não se levantava. Como criança, conseguira chegar mais perto, abaixou-se, pegou a maçã, e a entregou a sua mãe, ela não queria aceitar, suas lágrimas não paravam, então, com um peso em seu peito, deixou a maçã em cima do livro, deu-lhe um beijo, e caminhou de volta ao portal, antes de entrar, deu um beijo em sua palma e o soprou para sua mãe, que a encarava ao longe.

O recado estava dado.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Lembranças

Acordei numa ala hospitalar, estranhei o local, algumas pessoas ficaram surpresas por eu ter acordado, isso me incomodou um pouco, comecei a caminhar, deixaram me sair, mas teria que voltar. Fui buscar a origem de estar ali, me sentia bem.

Cheguei a um prédio velho, sabia que era ali que trabalhava, e pensava em trabalhar não fosse a destruição que assolava o lugar. Conforme subia  suas escadas, apenas ruínas e destruição. Encontrei minha sala, e nada via a não ser escombros. Entregaram me uma sacola com coisas e objetos que ainda estavam identificáveis, levei os comigo, mas não conseguia entender o que havia acontecido.

Quando mencionei minha dúvida, muitos dos que me acompanhavam demonstraram espanto, indagando "mas você não se recorda de nada? Nem uma mísera lembrança?" Bem, apenas lembrava de trabalhar naquele prédio e depois de ter acordado no hospital... Comecei a vasculhar o que restara da sala, e apenas me lembrava de como era, como chegava ali, das pessoas que ali ficavam.

Abri a sacola de meus pertences que haviam restado e nela encontrei uma folha de jornal, com fotos do prédio, antes e depois. Ahn? Depois do que? Li rapidamente, e algo como uma explosão havia deixado o lugar assim, e como não existiam lembranças? Descobri que as pessoas que me acompanhavam eram do hospital, e sua surpresa em eu não lembrar era porque fui resgatada consciente e falando. Bem, isso é bom não é? Eu não senti dor, nem medo, tal como em minha infância, quando tive convulsões e via meu corpo por outro angulo e ouvia me chamarem, meu corpo sofria, mas não minha consciência, isso não é bom?

Eu queria entender a origem da explosão, enquanto insistiam em me contar o que havia acontecido comigo: havia dormido por um mês e tive recuperação rápida, outros, nem tanto. Enquanto esclareciam me e tentavam resgatar minhas lembranças, voltamos ao hospital, ao longo corredor que levava me a conhecida ala, muitas pessoas por ali transitavam... todos sempre acompanhados, tudo parecia tão distante, tão surreal, não via rostos conhecidos, sem lembranças, sem passado, o cálice vazio, pronto a encher se novamente, e sempre, sempre....

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O lago escuro

Encontrei um lago de águas escuras e calmas, passava uma tranquilidade tão imensa quanto seu próprio tamanho, resolvi quebrar seu silêncio, abaixei-me e comecei a atirar pequenas pedras, que em seu leito se encontravam. Pequenas ondas começaram a formar-se e batiam-se uma com as outras... parei para observar, quando percebi que ondas continuavam a brotar mesmo sem pedrinhas. Intrigada, dei a volta para poder ver melhor o que acontecia, debrucei me na margem, mas nada via, a não ser suas águas escuras tremulando, mas, numa questão de segundos, a margem ao qual me debruçara, começa a desfazer-se, e como uma pedra caio no lago.

Como uma pedra afundei, e tal qual seu tamanho, era a sua profundidade, parecia afundar sem fim. Era apenas como se caísse. Não sufocava. Não tentava subir. Apenas descia, sem pensar, sem sentir...

Meus pés tocaram algo. Enfim, minha descida terminou. Meus olhos, nada conseguiam ver, meu único sentido era o tato, conseguia perceber o tremular das águas, algo se aproximava de mim, não tinha medo, mas não conseguir ver me angustiava. Fui arrastada, sentia areia em meus pés, e comecei a ver ao longe uma névoa, mas não seguiamos para lá, estava apenas de passagem, observar, sentir, nada além. Consigo ver uma silueta, parece um ser humanoide, sem face definida, seus olhos pareciam apenas sombras, seus braços apontam uma direção, percebo que terei que seguir sem sua companhia. Continuo como que flutuando, e chego a uma colonia, uma cidade branca cresce conforme me aproximo, sua ruas tornam-se nitidas, a luz do lugar consegue me envolver, e volto a enxergar todos os detalhes, não vejo seu habitantes, mas sinto suas presenças a me observarem das janelas, as casas são simples e charmosas, tudo branco. No chão, vejo algumas conchas, pego algumas, e vejo que todas possuem uma inscrição, mas não sei identificá-las, guardo, e continuo a procurar algo pela cidade.

Sigo em direção centro, e conforme me aproximo, sinto que estou perto de minha busca, vejo alguns seres, mas se afastam com minha presença. Abrem caminho para que eupasse, sinto que o que está ali, é para mim. Quando vejo, em um pedestal, uma linda pedra azul, a única cor que vi ali. Pego a pedra e a guardo. Nesse momento, toda a tranquilidade vai embora, os seres passam como que em fuga, e eu sinto uma imensa vontade de respirar, lembro-me da descida, o quão longa foi, e tudo começa a ficar confuso, rodar, quero respirar, preciso respirar, preciso de AR, chega de água, e um zumbido toma conta de mim...
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