terça-feira, 1 de março de 2011

Ajuda silenciosa

A garotinha estava sentada no meio fio, chorava copiosamente quando lhe perguntei o que havia acontecido para tanta tristeza. Aos soluços, ela me explica que havia derrubado o leite, e o pote havia se quebrado e não tinha outro para substituir, - ela carregava o leite em um pote de vidro, sua capacidade devia ser maior que 1 litro - e diante disso, estava com medo de voltar para casa, preferia ficar ali, chorando e chorando.

Não sabia como ajudá-la, pensei, e tentei arrumar uma solução, nenhuma de minhas sugestões foram aceitas, tal como "o que acha que explicar para sua mamãe que foi sem querer?", e "se você disser que paga o próximo?". Nada surtia efeito, era praticamente impossível plantar um sorriso naquele pequeno rosto. Resolvi deixá-la, não sabia exatamente o que fazer, mas ali, nada conseguiria.

Continuei a caminhar na rua de paralelepípedos, mesmo depois de muito andar, ainda ouvia os soluços da garotinha. Eu não sabia para onde estava indo, mas parei em frente ao que seria a possível solução: a mercearia. O dono estava lendo um jornal distraídamente ao fundo do balcão, o rapaz que o ajudava ia de um lado para o outro atendendo desde crianças assustadas a senhoras apressadas. Estava difícil de chamar a atenção de alguém naquele lugar, mas tive uma idéia!

O dono parecia uma boa pessoa, mas estava por demais entretido em seu jornal, assim desisti dele, ao menos, por enquanto. Olhando melhor, notei uma jovem senhora a um canto, esperando tranquilamente por sua vez, seus olhos doces chamaram minha atenção, assim a escolhi para ajudar a garotinha triste. Esperei que ela fizesse o pedido, e sussurrei lhe que poderia comprar um pote a mais de leite, para o caso de uma eventualidade, como fazer seus famosos pãezinhos para uma visita inesperada... Para minha surpresa, rapidamente ela atendeu meu sussurro, e dobrou a quantidade de leite, farinha, fermento. Fiquei feliz, havia conseguido uma parte, agora precisava mudar seu caminho, o que não era difícil, já que a garotinha estava a alguns quarteirões da avenida principal, e como chorava alto, difícil não chamar atenção. De qualquer forma, acompanhei-a, para não haver enganos, seus ouvidos atentos logo se alarmaram e procuravam a origem do choro, sem influência alguma, ela encontrou a garotinha. Fiquei feliz por ter escolhido a pessoa certa.

A jovem ajoelhou-se aos pés da menina, e perguntou-lhe o que havia acontecido. A garotinha olhou para mim, e falou "você não precisava ter trazido sua mãe!!" - enquanto isso, a jovem a encarava com olhar duvidoso, e insistia em saber o que havia acontecido.

- "Por que você não contou pra ela? Eu derrubei o leite e não posso voltar assim para casa!"

E voltou a chorar e encolher-se, aliás, suas lágrimas praticamente não existiam mais, de tanto que já chorara. A jovem, com um pouco de dificuldades, entendeu, e ofereceu um de seus potes a garotinha, que recusou, e disse que seria pior chegasse em casa com um pote diferente. A moça insistiu, explicou, disse que a acompanharia, mas nada colocava um sorriso naquele rosto. Assim, sugeri que deixa-se ali o pote e partisse, e ela assim o fez.

Quando a jovem levantou-se, e continuou seu caminho, deixando um pote para trás, a garotinha parou um pouco, e entre soluços e perguntou-me:

- Você não vai com sua mãe?

- Eu já estou com ela... :-)

2 comentários:

Anônimo disse...

Poxa... Aí sem palavras!!! Precisamos muito daquele vinho!!! Beijos!!!

Anônimo disse...

Poxa... Aí sem palavras!!! Precisamos muito daquele vinho!!! Beijos!!!

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