sexta-feira, 2 de abril de 2010

O Louco

 
Caminhava apressadamente sem saber aonde iria chegar, quando sem muito aviso a trilha mudou seu curso, levando para o Leste. Parei, quando avistei o vale, a descida era íngreme, e minha motivação não era descer por ali tão rápido como estava cursando o caminho até então.

Fiquei ali por um bom tempo, talvez dias, avaliando o quão trabalhosa seria a descida, depois teria que atravessar o vale, não podia ver como seria a trilha quando chegasse ao fundo. Ali onde estava, poderia ser simplesmente o final, ou se meu coração pedisse, podia transformá-lo em um novo começo.

Luas se passaram, a trilha que descia ao vale estava sumindo em meio a vegetação que ali crescia na Primavera, mas o local onde estava era seguro, possuía várias rochas, e algumas formavam galerias que levavam a cavernas, ótimo abrigo para o Inverno. As castanhas eras colhidas e guardadas para o frio, algumas frutas viravam compotas, o lugar era cômodo, seguro, mas algo faltava. A visão da trilha, incomodava, evitava olhar para ela, como se ela indicasse uma derrota pela caminho não seguido. Corri tanto, para parar ali?

O caminho teria que ser iniciado novamente, pois aquele não era o fim sonhado.

Foi em uma manhã fresca de Outono, época em que a trilha voltava a ficar vísivel novamente, seu tom amarelado a tornava atraente, quando tomei uma decisão: sairia dali na próxima lua crescente, teria várias noites claras pela frente, chegaria ao final da trilha antes do Inverno. Algumas coisas foram organizadas as pressas, mas não havia tempo. Seria loucura iniciar o caminho de tal modo, mas era loucura parar ali por tantas estações. Meu coração bateu aliviado estava feliz em voltar a viver.

Minha alegria começou no dia da descida,  não fazia idéia do que encontrar, e era exatamente isso que tornava a viagem interessante. Muito foi deixado para trás, levava em minha bagagem apenas o essencial, pães e geléia, água, cobertor, um punhal, e claro, alguns grãos de café... deveria seguir o caminho do rio, mas não podia ver se ele acompanhava a trilha toda, o importante, era deixar para trás tudo que pudesse atrapalhar a viagem. Entregue ao desconhecido, loucura seria não seguir adiante.

Feliz! O caminho voltou ao seu início novamente, quem disse que seria fácil? Íngreme, rochas soltas, a vontade de voltar, lama, escorregões... quem saberia o quanto duraria... seguir, neste momento, era a única meta.

Deixe-me em minha insanidade, ou partilhe dela comigo, o cálice deve estar vazio, para ser preenchido novamente.

2 comentários:

Warlock Wolf disse...

Muitas vezes vemos uma grande oportunidade, uma oportunidade que qualquer pessoa gostaria de ter, e nós também.. nosso primeiro impulso é abraçá-la, afinal, se recebemos, somos merecedores.. e nenhuma pessoa em sã consciência deixaria aquela oportunidade passar...

Mas aí vem o tempo, e uma voz lá dentro vem dizendo cada vez mais alto e claro "você precisa seguir".. e só então percebemos que esta grande oportunidade era apenas um desvio, ou um momento de descanço pra repor as energias.. mas não podemos parar, "parar" não faz parte de nós, seres em constante evolução..

Porque o importante não é o destino.. é o caminho.. :)

Pythio disse...

Meo! Bem legal mesmo esse teu texto, achei preciosa a frase final do cálice vazio... muitos conhecem-a mas poucos sabem o que ela significa.. ainda mais pelo fato do cálice estar ligado com o útero da grande mãe, o mistério, o inicio e o fim... bom, dei uma viajada neh? Agradeço por enriquecer a minha experiencia!!!
Bjão

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